quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Rosa Vaz ao lado da sua "cidade branca"



Posto isto, “Unlock thoughs” não é um mero título insípido e vago copiosamente destinado a servir de cara a mais uma exibição de pintura e cerâmica. Ultrapassa os formalismos conceptuais e vem marcar uma posição sólida e honesta quanto ao estado de espírito da sua portadora. A intencionalidade e a liberdade do conjunto das vinte e uma obras, expostas na Galeria Actual, traduzem na sua essência mais uma fase da vida desta angolana adoptada por Braga. A “mente aberta” exige um desafio constante ao observador, uma experiência sensorial nas incidências aí retidas. Uma partilha de impressões, emoções e truísmos do “eu artístico”, que impele a sua desconcertante intimidade na figura das suas telas. Um processo de intenções de Rosa Vaz  que não permite a indiferença ao receptor e que nos confronta com o seu “nascer continuado”, nas palavras de Merleau-Ponty. Os presentes na inauguração lisboeta responderam afirmativamente.
Fruto da sua forte personalidade e das raízes inatas da sua África natal, a artista parte para uma conjugação enformada das culturas que lhe são afectas e pelo meio ocidental e citadino que a envolve. É, precisamente, nestas duas vertentes basilares que a sua extensa obra a reflecte, representada por fortes tonalidades e contrastes, pelas linhas ritualistas e exóticas e pelas cidades e vivências sobrepostas no seu imaginário. Uma vez, a visão de uma inocência angolana perdida no caos cosmopolita da polis, noutras a transformação sofisticada da técnica apreendida no fundo telúrico e mágico da sua meninice.
Essa visão dicotómica entre as raízes angolanas e o abstraccionismo europeu são os sinais mistos da singularidade artística que a torna num caso sério e verdadeiramente único no panorama nacional. Com uma vasta carreira de mais vinte anos feita a pulso e de uma forma estóica e determinada, Rosa Vaz veio assinalar com mais esta exposição qual a verdadeira dimensão da arte na sua vida – indissociável dos seus prazeres mundanos e das rotinas diárias. Uma entrega avassaladora.
Rosa Vaz, cidadã do mundo, autodidacta de formação e artista por vocação.

Texto de Manuel Fernandes 
sobre a exposição ‘’Unlock Thoughs’’, em Lisboa

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